terça-feira, 3 de novembro de 2009

Vulnerável....Mas nem tanto!!

Venho remexendo em minha coisas, meus escritos e postando textos antigos e novos, tudo misturado. Percebo que mesmo os antigos continuam atuais. Sempre gostei de gente, em todas as suas minúcias e é sempre fantástica a experiência de conhecer pessoas. Esse texto foi escrito em 1999 e continua tão atual...



Meu mundo é particular.
Me sinto ímpar, com pátria e língua minhas.
Pareço diferente e como tal sou observada, sempre observada, medida, comparada, anotada.
A cada passo, uma opinião.
A cada opinião, uma sugestão.
Todas com receitas de felicidade. Felicidade que pareço não ter.
Preocupação comigo, com o que visto, o que como, como ando, o que faço, o que quero, o que gosto ou o que digo.
É instigante tanta preocupação e às vezes é até engraçado.
Vejo pessoas tão angustiadas, ansiosas, frustradas e que querem me ensinar a ser feliz...
Incoerência, hipocrisia, escapismo?
Em acontecimentos sociais todos exaltam suas felicidades, é hora de contabilizar sucessos e graças, principalmente frente àqueles que não fazem questão de se expor .
Devo agradecer estar em contato com pessoas sempre tão felizes, sem problemas e sempre tão altruístas que se compadecem dos menos afortunados e lhes dedicam sua atenção e receitas de bem viver.
É incrível como existe a necessidade, quase que desumana, de cutucar feridas, constranger, machucar, é como se cada vez que alguém fosse exposto ao escárnio social e emocional funcionasse como redenção a todas as frustrações, mágoas e perdas de todos. É uma catarse coletiva dirigida àquele que funciona como Cristo.
A felicidade que sinto agride!!!
Como eu, diante de tantos obstáculos, abandonos, situações difíceis, tenho a capacidade de dizer que sou feliz?
Mas é isso!!! Desculpem-me se os agrido, se venho de encontro às suas opiniões, se não sigo seus conselhos, se vivo diferente, mas SOU FELIZ!!
Desculpem-me se me gosto!
Desculpem-me se trabalho muito e isso me dá prazer!!
Desculpem-me se me divirto, rindo até de mim mesma!
Desculpem-me se fico em casa feliz !!
Desculpem-me se gosto e acredito no amor, por mais piegas que possa parecer!!
Desculpem-me se ainda acredito no ser humano!!!
Desculpem-me se gosto da verdade e a busco a todo instante!!
Desculpem-me se sou uma eterna criança, boba mesmo!!
Desculpem-me se tenho uma FÉ inabalável!!
Desculpem-me se reconheço minhas falhas e tenho humildade e vontade de aprender!
E EU ???
Os desculpo por não me desculparem por ter a OUSADIA DE SER FELIZ!!!


Passou o tempo e eu continuo OUSADA e SENDO FELIZ!!!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Episódio Triste

Não é possível que amar seja somente assim, manter sob o julgo de alguém outra pessoa, manter o controle, decidir a vida. Não creio que amar seja isso, não um amor saudável que edifica, que completa, que dá calor , aconchego.
Que episódio triste aconteceu, vi uma pessoa, decidindo, o destino, as rotas, os rumos de uma outra vida, sem que essa possa se manifestar.
Será que durante anos de uma vida, pontuada por boas ações, caráter, dignidade, obediência cega, ela não conseguiu demonstrar maturidade, não conseguiu gerar confiança no outro ao ponto de ele perceber a capacidade de que ela decidir o que pode ou não fazer?
Episódios assim me levam a reavaliar toda uma vida, repensar todos os caminhos e questionar a sanidade, visualizar a impotência e o fracasso em demonstrar quem é uma pessoa em essência .
É muito paradoxal, é um abismo abissal entre duas personalidades de uma pessoa. Como pode ser tão respeitada, admirada, ter competência, equilíbrio e capacidade decantadas de um lado, que fazem com que seja reconhecida, respeitada e de outro lado, ser tão desrespeitada na condição de adulta, de mulher? É incompreensível. Mas, aprendi , com minhas leituras, minhas buscas pessoais, a não julgar, nem sempre o que vejo , observo é o real, é somente minha visão subjetiva de enxergar o outro.
Diria que ela pecou pela permissividade, pela insegurança que implantaram nela, pela falta de lucidez em alguns momentos, por sucumbir ao emocionalismo, por aceitar idéias de culpas , por ser refém de opiniões alheias. Até eu, nesse momento estou tecendo comentários, opiniões, percepções em relação a seus atos e eu que digo não julgar.
Fracasso é o sentimento que ela diz ecoar dentro de dela, em que momento da vida ela deveria ter reagido de forma mais contundente para que não confundisse amor , zelo, com domínio, castração? Não sei, infelizmente , não sei. Queria tanto ter palavras para ajudar uma amiga que me parece estar há 5 minutos do precipício, mas quem sou eu?
Nas madrugadas, onde a minha voz interior me grita as verdades, eu busco incessantemente respostas, onde sou eu comigo, onde sou o meu maior algoz, onde me envergonho de não ter sido capaz de ter uma palavra que pudesse ajudar alguém. Em momentos assim me envergonho de despertar tantos elogios externos, me sinto uma fraude , um embuste. Em momentos assim questiono toda minha busca por conhecimento, por crescimento. A minha impotência e fragilidade me fazem, irremediavelmente humana e frustro a expectativa alheia que , sem que eu permitisse, quisesse, ou mesmo esperasse por isso, me coloca num patamar de perfeita.
Não sou, nunca fui, nunca serei, declino do patamar de perfeita, de equilibrada, ouvidora mor de todos os amigos, reservatório renovável de palavras certas nas horas certas, personificação do equilíbrio . A verdade é que arrastando correntes por não ter conseguido dizer nada para ajudar uma amiga num momento em que ela esperava que eu dissesse no mínimo TUDO, que tivesse a solução de seus problemas, a receita do bolo da vida, acabei por me cobrar a responsabilidade e fui avalista da dor.
Não consigo nem entender a mim mesma, acordos de paz entre a minha razão e o meu coração é o que faço para continuar vivendo , vivo com porquês, indagações complexas, quem sou eu para aconselhar alguém?
Ninguém é dono da verdade, ninguém sabe exatamente o que é o melhor para o outro, por mais amorosos que sejam os olhos. Cada um guarda dentro de si um universo de pequenas coisas, imersos em minúcias muito particulares. A única coisa que entendo como certa e, aí sim posso dizer a ela é que penso que amar incondicionalmente inclui deixar viver, alegrar-se pelo outro, vibrar com cada conquista , preocupar-se mas incentivar, um amor saudável valoriza, aceita , aceita na totalidade . No mais, é ensaio e erro, é rota perdida, encontrada, é riso e choro, é cair e levantar.
Mais uma vez digo e repito: declino do patamar de perfeita.


Sabe quando alguém procura você esperando que você diga exatamente o que deve fazer e se exime de toda responsabilidade de sua própria vida? Te elege como responsável por toda orientação , rota, diretriz de uma vida? Pois é..ninguém é capaz de de dirigir uma outra vida, amizade é muitas vezes silenciar, é somente se fazer presente, dar o ombro, ouvir as lamúrias e sair quietinho...Aconteceu comigo e como tenho uma lealdade absurda aos amigos, acabei eu ficando deprimida por ter conseguido resolver os problemas dos amigos, como se eu pudesse , eu tivesse capacidade de fazer isso..SURPRESAAAAAAAA!! Não posso e não quero...

sábado, 24 de outubro de 2009

O Não Salvador..

No último fim de semana dias 17 e 18 outubro de 2009 fomos surpreendidos com um espetáculo de horrores, de violência, de falta de amor, uma impotência total , uma fragilidade e vulnerabilidade assustadoras do poder público.A luta pelos pontos de venda de drogas em duas comunidades no Rio de Janeiro fez cidadãos reféns da violência, pânico, medo.
Em meio a toda essa confusão, a dor de uma mãe com a perda de seu filho, policial que estava no helicóptero abatido pelos traficantes, e suas palavras me fizeram refletir, segue as declarações da mãe publicadas no jornal “O Globo” do dia 21 de outubro de 2009.
“Muito emocionada, a mãe de Izo, Regina Gomes Patrício, falou do amor que o filho tinha pela profissão e disse que os pais são os verdadeiros culpados pela violência que assola o Rio, pois não dão educação para suas crianças:
_ Tenho a 7ª série ( do Ensino Fundamental), mas levei meus filhos ao Ensino Médio. Dizem que o culpado ( pela violência) é o governo, mas culpados somos nós, os pais,que não sabemos dar educação para nossos filhos. Povo de favela, povo de morro, nasceu os filhos de vocês, modele eles do berço. A gente não pode esperar chegar aos 13, 14 anos, que eles já estarão perdidos. Se for do berço, serão obedientes, amigos de vocês. Jamais vão errar na vida, virar traficante e deixar toda a sociedade apavorada. Meu filho foi um herói, um guerreiro. Morreu fazendo o que mais gostava. Vai deixar saudade- Disse Regina, que depois do enterro teve de ser amparada por familiares”
Todos nós, que somos a sociedade civil, temos nossa parcela de culpa, ela, mãe que criou filhos na favela, mães que criam filhos no asfalto, mães que criam filhos nos apartamentos e casas luxuosas, filhos são filhos, necessitam de nossa orientação, necessitam do NÃO salvador, necessitam de limites, necessitam, como disse Regina, que os modelemos desde o berço.E que lhes passemos valores, respeito, solidariedade e muito amor.
Nada nos adianta , nesse momento de extrema violência, discutirmos de quem é a responsabilidade, se da polícia , que não prende os criminosos e cheira a corrupção, se do Governo Federal que não fecha as fronteiras, se do Legislativo que não acaba com a progressão de penas e do Judiciário que libera criminosos por bom comportamento, não nos adianta tratar dos sintomas, sintoma não é o MAL em si e sim suas conseqüências.
Precisamos sim, cuidar das novas gerações, dar exemplos de amor, respeito, dignidade, cidadania, semear AMOR. Precisamos , desde “o berço”, mostrar que por menor que pareça o dever, por mais primário que possa parecer o ato é preciso incutir a necessidade de respeito seja numa fila onde pretendemos “furar” a vez do outro, num troco errado que recebemos e não devolvemos fazendo uso indevido do erro do outro, num carro que paramos “rapidinho” numa calçada, num cumprimento que deixamos de dar ao entrar em algum lugar, no obrigado , no por favor que deixamos de dirigir ao outro, naquela louça que deixamos sobre a pia para que o próximo que chegue possa lava-la, numa garrafa de água que deixamos vazia na geladeira, naquele material escolar que “aparece” em casa e não perguntamos de onde vem.” Mas isso tudo é tão pequeno”, podem pensar, mas as grandes coisas começam no detalhe, no imperceptível, na leitura incidental que os pequenos fazem do mundo, no bombardeio de imagens e fatos violentos que eles têm , na corrupção , na certeza da impunidade alardeada. É preciso que façamos a diferença , que sejamos o exemplo para eles, que policiemos nossas palavras a atos para que nossos pequenos possam ver em nós um exemplo vivo daquilo que falamos para que nossa fala não seja vazia . Enfim amar muitas vezes é dizer o NÃO salvador.


Mônica Pereira
23/10/2009

Há muito não faço nenhuma postagem por aqui, sou meio de marés como boa pisciana, por vezes escrevo horas a fio, por vezes acho que desaprendo ou meu dispositivo mental, desconecta. Nem é esse o meu jeito de postar, aliás acho que nem tenho um jeito definido de escrever..É realmente ter o coração nos dedos ...

Pássaro Triste..

Um pássaro triste vive.
Nasceu em cativeiro.
Fora alimentado, acarinhado e aprendeu a voar, sempre dentro dos limites de sua gaiola, mas sabia voar !
Olhava triste a passarinhada a brincar, acasalar na adolescência, sem poder participar, mas sabia voar !
Como compensação carinho, carinho, carinho e carinho.
Foi ficando para trás no desenvolvimento, sabia voar, mas não pulava de galho em galho, não se pendurava no fio da luz, choque nem pensar ! Mas sabia voar !
Tinha a ânsia de chegar, mas não a coragem de tentar ! Mas sabia voar !
De tanto observar a passarinhada feliz a brincar, voar, cantar , tinha vontade mas não a coragem de tentar !
Tinha medo de tudo que diziam que o mundo fora da gaiola era e nela era quentinho e seguro !
Seu canto era desafinado, as penas desarrumadas, o olhar longínquo, mas todo mundo achava o pássaro feliz, diferente, mas .. feliz!
Um dia o pássaro saiu da gaiola, voou, acasalou, formou um ninho, que um menino impiedoso atingiu com uma atiradeira, caiu o passarinho !
Com a asinha quebrada, o coração partido, com o vôo prejudicado, voltou para a gaiola.
Agora ele não sabe voar, na verdade nunca soube realmente voar fora daqueles limites, ele não aprendeu.
Pobre pássaro, o canto não chama a atenção, a penugem não é linda e ele, diferente dos da espécie, não sabe fazer estrepulias no ar.
Nada construiu, nenhum fruto deu, embora a gaiola seja maior o horizonte é cada vez menor.
E todos olham e dizem: _ Que lindo passarinho ! Que boa vida ele tem, que mais pode querer ? Tem de tudo um pouco ! Como queria ser ele !
Ninguém nunca olhou no fundo de seus olhos e percebeu a grande tristeza que nele repousa.
Nunca ninguém pensou o porquê de mesmo estando aberta a portinha da gaiola não foi sedutora a idéia de fugir, de tentar voar mais alto, construir um ninho no galho mais alto, pular e cair de um fio, tomar banho no chafariz, bicar a água da poça, bicar o pão da praça, pousar sobre uma janela desconhecida, juntar-se a passarinhada e tornar-se um deles ?
Talvez ele não saiba mais voar, não seja capaz, tenha medo de ousar e com isso sofra ao perceber que não corresponde aos anseios dos outros e não tenha os seus !!

Nossa...Escrevi em 1996..Nem preciso dizer o estado espírito do "passarinho"..

Ser diferente..

Revirando meu escritos, meus "apanhados" vi surgirem tantas coisas, algumas são ainda o que sinto, outras ao reler penso "Nossa eu estava mal mesmo" quando escrevi, mas reler é reviver e, muitas vezes, é agradecer o quanto já cresci, já amadureci...


DIFERENTE

Ser diferente,
Saber conviver e desenvolver um Dom,
Inquietações surgem a cada instante, frustrações se impõem.
Quem sou eu ? A que vim ?
Um mundo tão difícil, uma sociedade caótica, uma comunidade tão desunida,
descompensada, frustrada, violenta.
Hoje, cada um com seu cada um, não existe um nós, somente “eus”.
A sensibilidade é um defeito gravíssimo, que sofrimento traduz.
Queria desligar-me, não pensar, não enxergar tanta pressão, cobrança, inveja, ironia,
sentimentos tão pequenos.
Vejo sempre olhares tão distantes, vazios, superficiais, que visão sombria.
Descobri uma amargura embutida em pessoas tão “vitrine”.
Sempre sorrindo em grupo, exalando uma alegria e bem viver falsos. Por quê? Pra quê ?
Otimismo ? Desligamento voluntário ? Não sei ! Que loucura !
Não prego um desespero nacional, prego sim uma conscientização, uma tomada de posição perante o holocausto social que vivemos.


Mônica Pereira / 95


Escrevi em 1995 e ainda percebo pessoas vitrine e tantas vezes me questionei: Será que só eu sofro? Será que só eu me angustio, tenho problemas? Nos eventos sociais todos contabilizam ganhos, todos são felizes, bem casados, bem empregados..Nossa..Sou alienígena no próprio mundo de meus iguais..