domingo, 2 de setembro de 2012

Tempestade em Copo D´Água




Analisando a origem da expressão “tempestade num copo d´água” com o significado de aumentar descabidamente a importância de eventuais acidentes nas relações pessoais, percebi que tais “tempestades” dependem de como cada um consegue lidar com determinadas situações e como são estritamente pessoais e intransferíveis não há como julgar se certas ou erradas.
            Quantas e quantas vezes criticamos o comportamento de pessoas que passam por determinada situação e quando nós mesmos estamos a passar por elas, agimos de forma semelhante ou até mesmo com maior dificuldade do que aquele que antes criticávamos.
            Quando um amigo passa pelo término de um relacionamento amoroso, entra em depressão, se afasta dos amigos, desacredita no amor, fica se lamuriando cada vez que nos encontramos e aquilo se torna até chato pois, de fora, pensamos que há tantas pessoas legais no mundo, tanta vida para ser vivida, que nosso amigo é tão especial, alegre, bonito, interessante que poderia simplesmente deletar aquele ser que o abandonou, sacudir a poeira e estar pronto para novos relacionamentos.Em verdade muitas vezes  no afã de cuidar daquele que amamos sofremos junto vendo a angústia do amigo e queremos ajudá-lo dando incentivo e boas palavras, mas nada sabemos do que vai no coração do outro, as minúcias que faziam daquele relacionamento especial embora para nós, aqui de fora, tenha sido uma libertação. Muita gente é feliz acorrentado, não quer a libertação!
            Quando alguém perde um ente querido os primeiros dias são recheados de amparo, ajuda, palavras de carinho, abraços e promessas de “estamos com você”. Na missa de 7º dia muitas pessoas comparecem, compartilham da dor e da saudade, aceitam suas palavras de saudade e dor. Mas.. o tempo passa e já na missa de 1 mês de falecimento somente os mais chegados comparecem e parecem já ter esquecido aquele que foi tão especial. A partir desse momento as pessoas meio que cobram que você esqueça, que se reerga, que deixe-o descansar em PAZ, com se falar dele ou dela, fosse proibido e trouxesse certa energia negativa, é se você insiste em falar, está a beira de uma depressão e está ficando chata.
            Isso aconteceu comigo, exatamente da maneira como expus, estava de um lado e passei a estar do outro. Quando um vizinho nosso faleceu, senti muito, pois era o vizinho/amigo muito especial, morava com sua esposa, há mais de 20 anos a nosso lado, freqüentava nossa família e ficamos de verdade sentidos e até hoje sentimos sua falta. Sua esposa, ficou literalmente sozinha, pois não tinha filhos e tudo que fazia era junto ao marido: compras, passeios, viagens, médico, resolução de problemas, enfim um existia por meio do outro e vice-versa. Quando ela , a esposa, demorou muito a se recuperar de sua perda, todos diziam que já estava na hora de colocar a vida em ordem, de começar a se habituar e muitas outras coisas. E, agora consigo entender perfeitamente como ela se sentiu, os momentos pelos quais passou e até senti-me envergonhada de ter em algum momento criticado esse ou aquele comportamento.
            Tive , há pouco mais de um mês, um encontro revelador com uma tia do meu pai de 84 anos. Fazia uma idéia dela totalmente distanciada da verdade. Enxergava-a como muito meticulosa, toda programadinha, com uma vida muito previsível e sem aventuras ou surpresas e confesso que até achava um tanto chata quando a encontrava na casa da minha avó. Religiosamente ia à casa de minha avó às 3 da tarde, lanchavam às 4 e ia embora às 5 e os papos, as conversas, eram sempre as mesmas. Quando meu pai faleceu ela marcou de vir aqui em casa para conversarmos, dar um apoio à família e esse encontro estava me dando calafrios. Pensava em como seria “suportar” tal visita por 3 horas.
            Eis que chegou o dia. E ela chegou às três da tarde , em ponto, e começamos a conversar, não sabia que assunto falar, que tipo de papo puxar. Eis que veio a grande surpresa, de fala fácil, inteligentíssima, animadíssima, com histórias fantásticas da vida, de amores, e o melhor de tudo com histórias da minha família que eu nem pensava que pudessem existir. Me fez entender a minha avó mais pouco, me fez olhar para a minha família com um olhar que eu jamais tive a oportunidade de ter. Nesse dia lanchamos não às 4, mas às 6 e ela saiu de minha casa às 7 e com a promessa de que voltaria pois foi uma tarde surpreendente e agradável.
            Cada dia mais me convenço que cada um É um, que cada um encerra em si um universo de pequenas coisas, que devo me policiar para não julgar. Que ao analisar fatos e atitudes presentes é preciso , se possível, conhecer um pouco da historia do outro para com isso tentar um melhor entendimento de determinada atitude e, principalmente, não esperar nenhuma atitude dos outros nos moldes do que eu ache que tenha que ser, isso é inteligência emocional, é poupar-se de decepções, evitar conflitos e ser mais feliz.
            Tempestades em copo d´água, tsunamis emocionais, maremotos pessoais, erosões sentimentais, minotauros mentais, labiritintos profissionais, coorentes sendo arrastadas em castelos ilusórios enfim cada um sabe a dor e a delícia de ser o que É.
            Mais uma vez parafraseando meu pai: “Cada um dá o que tem”