Analisando
a origem da expressão “tempestade num copo d´água” com o significado de aumentar descabidamente a importância de
eventuais acidentes nas relações pessoais, percebi que tais “tempestades” dependem
de como cada um consegue lidar com determinadas situações e como são
estritamente pessoais e intransferíveis não há como julgar se certas ou erradas.
Quantas
e quantas vezes criticamos o comportamento de pessoas que passam por determinada
situação e quando nós mesmos estamos a passar por elas, agimos de forma
semelhante ou até mesmo com maior dificuldade do que aquele que antes
criticávamos.
Quando
um amigo passa pelo término de um relacionamento amoroso, entra em depressão,
se afasta dos amigos, desacredita no amor, fica se lamuriando cada vez que nos
encontramos e aquilo se torna até chato pois, de fora, pensamos que há tantas
pessoas legais no mundo, tanta vida para ser vivida, que nosso amigo é tão
especial, alegre, bonito, interessante que poderia simplesmente deletar aquele
ser que o abandonou, sacudir a poeira e estar pronto para novos
relacionamentos.Em verdade muitas vezes
no afã de cuidar daquele que amamos sofremos junto vendo a angústia do
amigo e queremos ajudá-lo dando incentivo e boas palavras, mas nada sabemos do
que vai no coração do outro, as minúcias que faziam daquele relacionamento
especial embora para nós, aqui de fora, tenha sido uma libertação. Muita gente
é feliz acorrentado, não quer a libertação!
Quando
alguém perde um ente querido os primeiros dias são recheados de amparo, ajuda,
palavras de carinho, abraços e promessas de “estamos com você”. Na missa de 7º
dia muitas pessoas comparecem, compartilham da dor e da saudade, aceitam suas
palavras de saudade e dor. Mas.. o tempo passa e já na missa de 1 mês de
falecimento somente os mais chegados comparecem e parecem já ter esquecido aquele
que foi tão especial. A partir desse momento as pessoas meio que cobram que
você esqueça, que se reerga, que deixe-o descansar em PAZ, com se falar dele ou
dela, fosse proibido e trouxesse certa energia negativa, é se você insiste em
falar, está a beira de uma depressão e está ficando chata.
Isso
aconteceu comigo, exatamente da maneira como expus, estava de um lado e passei
a estar do outro. Quando um vizinho nosso faleceu, senti muito, pois era o
vizinho/amigo muito especial, morava com sua esposa, há mais de 20 anos a nosso
lado, freqüentava nossa família e ficamos de verdade sentidos e até hoje
sentimos sua falta. Sua esposa, ficou literalmente sozinha, pois não tinha
filhos e tudo que fazia era junto ao marido: compras, passeios, viagens,
médico, resolução de problemas, enfim um existia por meio do outro e
vice-versa. Quando ela , a esposa, demorou muito a se recuperar de sua perda,
todos diziam que já estava na hora de colocar a vida em ordem, de começar a se
habituar e muitas outras coisas. E, agora consigo entender perfeitamente como
ela se sentiu, os momentos pelos quais passou e até senti-me envergonhada de
ter em algum momento criticado esse ou aquele comportamento.
Tive
, há pouco mais de um mês, um encontro revelador com uma tia do meu pai de 84
anos. Fazia uma idéia dela totalmente distanciada da verdade. Enxergava-a como
muito meticulosa, toda programadinha, com uma vida muito previsível e sem
aventuras ou surpresas e confesso que até achava um tanto chata quando a
encontrava na casa da minha avó. Religiosamente ia à casa de minha avó às 3 da
tarde, lanchavam às 4 e ia embora às 5 e os papos, as conversas, eram sempre as
mesmas. Quando meu pai faleceu ela marcou de vir aqui em casa para
conversarmos, dar um apoio à família e esse encontro estava me dando calafrios.
Pensava em como seria “suportar” tal visita por 3 horas.
Eis
que chegou o dia. E ela chegou às três da tarde , em ponto, e começamos a
conversar, não sabia que assunto falar, que tipo de papo puxar. Eis que veio a
grande surpresa, de fala fácil, inteligentíssima, animadíssima, com histórias
fantásticas da vida, de amores, e o melhor de tudo com histórias da minha
família que eu nem pensava que pudessem existir. Me fez entender a minha avó
mais pouco, me fez olhar para a minha família com um olhar que eu jamais tive a
oportunidade de ter. Nesse dia lanchamos não às 4, mas às 6 e ela saiu de minha
casa às 7 e com a promessa de que voltaria pois foi uma tarde surpreendente e agradável.
Cada
dia mais me convenço que cada um É um, que cada um encerra em si um universo de
pequenas coisas, que devo me policiar para não julgar. Que ao analisar fatos e
atitudes presentes é preciso , se possível, conhecer um pouco da historia do outro
para com isso tentar um melhor entendimento de determinada atitude e,
principalmente, não esperar nenhuma atitude dos outros nos moldes do que eu
ache que tenha que ser, isso é inteligência emocional, é poupar-se de decepções,
evitar conflitos e ser mais feliz.
Tempestades
em copo d´água, tsunamis emocionais, maremotos pessoais, erosões sentimentais,
minotauros mentais, labiritintos profissionais, coorentes sendo arrastadas em
castelos ilusórios enfim cada um sabe a dor e a delícia de ser o que É.
Mais
uma vez parafraseando meu pai: “Cada um dá o que tem”