A ideia inicial era escrever uma
coletânea de meus poemas, meus textos, era um sonho com batismo e tudo,
chamaria -se “Coração nos Dedos” meu
livro, seguindo a idéia de meus sentimentos traduzidos em palavras, escorrendo
pelos dedos e acabando num papel, imortalizado, perene, pra que as pessoas
pudessem entender a complexidade de mim, se é que isso é possível.
Para
entender um pouco mais de mim e pra que minhas estórias tenham sentido, falarei
que fui uma adolescente tímida, ou quase, amiga ao extremo, dedicada , fiel, altruísta, aquela que recebia uma
ofensa se magoava , mas desculpava o ofensor, justificado-o com carinho e
sentindo-se até mesmo culpada de ter dado origem, de alguma forma àquela
ofensa. Mas toda vida tem um acontecimento que faz com que rumos sejam mudados,
comportamentos alterados, marcos, divisores de água.
Meu
divisor de águas, o acontecimento que fez com que eu me tornasse uma pessoa
mais madura, ciente de meu valor, defensora de mim mesma, e com isso reativa,
não no sentido agressivo, mas no sentido de me proteger, me defender e estar pronta para a convivência em
sociedade.
Coincidência
ou não, foi com uma professora de Psicologia no curso de magistério que eu fiz.
Eu que até então, era totalmente respeitosa com os professores, incapaz de
responder uma ofensa, fui pega de surpresa por esta professora que me chamou de
ridícula , pelo simples fato de eu no intervalo, antes que ela estivesse em
sala, estava penteando o meu cabelo, aquilo me deixou estarrecida e me fez
despertar, pensar o porquê de eu receber tudo aquilo que me diziam sem me
defender, eu merecia? Não..Não merecia ! Sentada de onde estava respondi que
ridícula era ela, que deveria estar ajudando estudantes a se tornarem
educadores e dava um espetáculo daqueles de falta de educação. A partir desse
dia, passei a responder a toda e qualquer ofensa que eu recebia e me tornei
“dona” de mim, minha defensora, no início meio sem medidas, mas depois
conseguindo o equilíbrio, a serenidade para entender, quando eu deveria
responder à altura ou quando deveria me calar por entender a ignorância do
ofensor. Inicialmente causei espanto nas
“amigas”, que acostumadas com brincadeirinhas depreciativas , nunca respondidas
e que agora eram respondidas usando a fraqueza de cada uma, pegava no
“calcanhar de Aquiles” delas, para minha surpresa, ao invés de se afastarem de
mim, passaram a me respeitar, vendo que eu tinha “carta na manga” para também
deprecia-las, caso quisesse.
Situações
sociais, de convívio social, seja em que nível forem : familiares, fraternais,
amizades, relacionamentos amorosos, profissionais, são sempre um desafio ao
nosso auto-controle, nossa auto-estima. As pessoas cobram demais, perguntam
demais, fiscalizam demais, e se ficarmos à mercê de todos esses inquisidores,
não teremos mais vida, seremos escravos e vislumbrar felicidade real , plena é
quase impossível, pois ninguém até hoje, conseguiu agradar à todos. Resolvi
agradar a mim mesma, respeitando algumas regras de convivência social, mas
sendo fiel a mim, agradando a mim, isso, é claro, incomoda. Ser diferente,
fugir aos padrões estabelecidos traduz luta, luta perene e requer perseverança
, amor incondicional a si mesmo, aceitar-se !!
Sempre
fui muito observadora, e sempre gostei de gente, das minúcias que circulam as relações
humanas, as reações nas mais diferentes ocasiões e isso me fez desenvolver a
sensibilidade e ter uma habilidade no trato com as pessoas. Fazer contatos,
conhecer gente, saber de gente, penso que inspiro confiança, pois sou boa
ouvinte e tenho uma palavra na hora certa, uma brincadeira que anima , um ombro
para acolher e com isso angariei amigos, sendo franca e tendo um jeito meio que
extrovertido, por vezes, incompreendido.
Tendo
uma adolescência turbulenta, fugindo aos padrões, precisei me aceitar com
perfeita dentro das minhas imperfeições, valorizar-me para a partir daí
enfrentar o mundo padronizado , em que a moda é ditada pela novela das oito, o
cabelo, o jeito de falar, do que gostar e até mesmo na política é moda dizer
que vota em fulano, é tão complicado ser diferente. A sociedade cobra, e nós
aceitamos a cobrança, no fundo achamos que realmente estamos fora de algum
padrão que deva ser o certo, pois se assim não o fosse não seria tido como
“padrão”, primeiro a cobrança quando na adolescência, “cadê o namoradinho ?”,
aí você arruma o namoradinho e pensa que estará livre das perguntinhas mas não
,surge outra e aí, “quando vão ficar noivos ?”, mais uma período de
respostinhas com sorrisos amarelos, afinal você pode não querer ficar noiva e
se você fica noiva não pense que vai se livrar, não a cobrança agora será pelo
casamento e se você se casa aí sim, cessam as perguntas , afinal você é mulher,
namorou, noivou, casou, ledo engano..Agora você precisa ter um filho para
satisfazer essa tal sociedade e ficar dentro dos tais padrões, seu casamento
vai bem, seu companheiro é perfeito, vamos ter um filho, ahhh que alegria,
agora você é completa, não ainda não, “Quando vem o irmãozinho?” e você,
preocupada com a família, marido, filhos, casa, trabalho, pois hoje somos
também profissionais de sucesso, então somos perfeitas, correto? Não..você
engordou, o que houve? Já que você conseguiu a duras penas, casar-se, ter
filhos, ser profissional, temos agora que cuidar de sua aparência, você passa a
caminhar, a fazer dietas da lua, da sopa, do palito com água, enfim emagrece e
vai aquele encontro familiar linda, casada, com filhos, profissional de sucesso
e vem uma e dispara: “Você está doente? Está tão magrinha!!”Não adianta tentar
agradar a todos isso é totalmente impossível...Há que seguir-se padrões sociais
de urbanidade, é claro, a convivência solidária e respeitosa e as Leis, pois
nem Aquele que veio pra nos salvar agradou a todos.
Algumas
coisas que acontecem comigo são no mínimo inusitadas e por incrível que pareça
sempre tenho uma testemunha, pois se assim não acontecesse seria difícil de
acreditar, pois fogem a normalidade, ao “padrão de acontecimentos cotidianos”,
e contá-los é um prazer, pois dramatizar “prende” os ouvintes e sinto-me
representando eu mesma e posso “me ver , fora de mim”. Vou abrir um espaço no
meu Blog, que vou chamar de “Coisas Cotidianas” que espero que gostem.