domingo, 4 de agosto de 2013

2ª Saga: Conseguir um Táxi..



                Bom, pegar um táxi é simples, não?! Negativo. Absolutamente improvável e missão de êxito duvidoso. É um contrato tácito de trabalho, ou seja, eu contrato você, taxista, para me transportar para local determinado, com segurança e urbanidade e eu o pago por esse serviço, certo? Hoje em dia, errado!
                Diariamente faço uso desse “serviço” para ir ao trabalho e há anos atrás isso era bastante simples, bastava que eu ligasse para uma cooperativa e solicitasse a viatura e era atendida de pronto e seguia eu feliz para meu trabalho. Hoje em dia, isso já gera uma ansiedade no dia anterior, pois NUNCA há um táxi disponível na referida cooperativa, sempre ouço: “estarei chamando no rádio e assim que conseguir retorno a ligação, senhora” sempre no gerúndio e para esperar, nunca de pronto.
                Hoje pedir um táxi é quase propor casamento, preciso dizer para onde vou, quantas pessoas estarão no carro, se é de imediato, se o pagamento é em dinheiro, qual a roupa que estou usando, qual um ponto de referência, qual a minha religião, se tenho cães, se tenho alergia, se faço uso de remédios controlados, se moro em área de risco, meu RG, meu CPF, preciso andar com uma certidão de bons antecedentes, folha criminal, enfim preciso fazer um raio X de quem sou para , quem sabe, conseguir um táxi.
                Há locais absolutamente proibidos para os taxistas, dois deles são: Taquara e Barra da Tijuca, temos que mentir o destino, pois na cooperativa simplesmente ignoram esses pedidos e quando informam o QTI ( destino da corrida) taxistas camaleões se escondem e não atendem sua chamada, os vejo escondidos em ruas próximas a minha e somente saem de suas cavernas quando percebem que a viagem ao epicentro dos engarrafamentos, ou seja, a minha corrida, já foi atendida.
                Quando não consigo na cooperativa e isso geralmente acontece vou para a rua tentar pegar um táxi de rolé, ou seja, aquele que não tem cooperativa e meio que aceita qualquer corrida pois tem que pagar a diária. Faço o sinal e ele me pergunta pela janelinha : “Pra onde?” e eu fico envergonhada de dizer “Taquara” e ele acelerar o carro, penso em mentir mas não adianta ,ele saberá! E nesse role, muitas histórias.
                Um deles , assim que embarquei disse: “ Minha senhora, sou um homem abençoado por DEUS, hoje sou um homem transformado pelo poder de DEUS, pois vou lhe dar o meu testemunho: Eu era traficante, fui preso várias vezes ( nesse momento olhou pra trás e sorriu e eu estremeci), tomei tiro da polícia, dei muito tiro em policiais, acabei de sair da prisão e lá aprendi muitas coisas, não sabia que lá eu poderia aprender tanta coisa ruim ( Olhou pra trás de novo e sorriu e minha mão já foi para a maçaneta, pois mais um sorriso do lagarto daqueles eu ia me jogar na estrada) e agora não, sou um homem transformado, casei de novo, tenho um filho de 6 meses com minha companheira que também foi transformada acabou de sair do presídio Talavera Bruce só quem continua lá é minha filha que também está presa por tráfico de drogas, pois seguiu o meu exemplo, mas hoje ela também já se regenerou e daqui a pouco estará na sociedade, fico muito feliz que possa estar falando todas essas coisas para a senhora, pois meu testemunho já salvou muita gente que entrou aqui no táxi. Na semana passada um homem embarcou no meu táxi querendo que eu o levasse para matar a mulher dele e eu consegui fazer com que ele desistisse disso...”  foram os vinte minutos mais longos da vida e quando saí do táxi esbaforida e aliviada esqueci meu celular e ele retornou à escola para me devolver, o agradeci e fiquei feliz por tê-lo pego quando já estava no lado da LUZ.
                Numa outra corrida quando embarquei o motorista passou a olhar-me pelo retrovisor e sorrir, depois começou meio que a falar sozinho , depois disse: “ Posso falar uma coisa para a senhora?” respondi que sim e ele começou a desabafar: “ Pois é, a senhora veja, faço tudo que minha esposa quer, pago as contas, faço as compras inclusive para sustentar o meu cunhado que está desempregado e tem duas famílias, a levo ao cinema, sou carinhoso, cuido de nossos filhos, levo as crianças para passear, levo ao médico, sou um homem bom a senhora não acha?” Respondi positivamente com a cabeça e ele nesse momento deu um soco no volante e disse , já meio alterado: “ Pooooooiiis é, e agora me disseram que ela tem um amante, um AMANTE, agora como posso trabalhar com a cabeça no lugar se sei que ela tem um amante? A senhora me diga, Comoooo? ( nesse momento parou o carro e olhou pra trás, querendo que eu respondesse)”  Eu disse: Não acredite em tudo que dizem! ( Queria acalmá-lo para chegar em segurança na escola)e ele disse: A senhora acha que é mentira? De gente que se incomoda com a nossa felicidade? Ou acha que onde há fumaça , há fogo? Fiz uma cara de pensamento profundo , pois ganharia tempo e já estava chegando próximo à escola e quando estava na porta da escola eu disse: Humm, creio que possa ser uma mentira, relaxe e observe! Ele deu um sorriso e me agradeceu. Eu, com esse comportamento protegi um próximo passageiro, mas creio que ele estivesse sendo enganado.
                Numa das corridas solicitadas à cooperativa que me “serve”(será?) quando embarquei notei que tinha uma caixa de ferramentas sobre o banco e falei ao motorista: “tem aqui uma caixa de ferramentas em cima do banco” ele olhou e disse:” Ahh, chega um pouquinho pro lado e senta!” Como assim? Isso se faz quando estamos de carona, mas num transporte contratado? Acreditem, foi verdade!
                Em outra solicitei o táxi, entrei e estou descansando, ouvindo uma música suave eis que de repente vejo no teto do carro uma imensa BARATA. Não poderia eu estar no mesmo espaço que ela e gritei muito, abri a porta do carro e saltei, a sorte é que o sinal estava vermelho e o motorista assustou-se e disse o que houve?? E eu disse: Uma baraaataaa! Surpreendentemente o motorista também saltou , ele tinha mais medo do que eu! E veio um policial militar para saber o que estava acontecendo e quando relatei o fato ele olha pro motorista e fala: “ Francamente, hein meu rapaz, você quer que eu dê um tiro na barata?” ao que o taxista respondeu: “Sim”...... O policial matou a barata, com os pés mesmo e seguimos viagem, mas esse fato até hoje aguça a curiosidade dos outros taxistas da cooperativa que querem que eu diga quem era o motorista. Não digo!
                Vou relatar somente mais um, pois faria páginas e páginas de minhas aventuras nos táxis cariocas. Peguei um táxi na esquina da minha rua e ao embarcar o motorista começa a me olhar insistentemente pelo retrovisor e aquilo começa a me chamar atenção, eis que vem a pergunta: “ Você foi bancária?” Sim, fui bancária. “ Eu sabia, você trabalhou no Banco Nacional, agência Carvalho de Souza, eu trabalhava numa loja Lewis que tinha ao lado do Império Serrano e eu ia todos os dias na hora do meu almoço pra ver você, pois você era uma mulher muito bonita, ou melhor ainda é, seu nome é Mônica, não é?” bom, fiquei pasma com essa lembrança, pois fui bancária há mais de 20 anos atrás e, de repente, na rua, pegar um táxi e o motorista se lembrar de mim? Como assim? Nesse dia agradeci à cooperativa que não pode me servir e tive a oportunidade de receber um super elogio, nem tudo é ruim, não é?

                Para encerrar um recado aos motoristas de táxi, o passageiro é na verdade o objetivo da existência do seu trabalho, o passageiro está para o motorista como o aluno está para o professor, o paciente para o médico e assim vai.  Quando uma corrida é anunciada e você a aceita, não vá nessa hora ao banheiro, beber água, tomar seu café, fumar seu cigarrinho e nos deixar esperando pois parece que estamos a pedir um favor e de repente estamos nós a “incomodar” seu papinho com os colegas. Se essa é a profissão que escolheu , seja responsável  e faça com amor, esse é o diferencial.

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