sexta-feira, 12 de outubro de 2012




A ideia inicial era escrever uma coletânea de meus poemas, meus textos, era um sonho com batismo e tudo, chamaria -se “Coração nos Dedos”  meu livro, seguindo a idéia de meus sentimentos traduzidos em palavras, escorrendo pelos dedos e acabando num papel, imortalizado, perene, pra que as pessoas pudessem entender a complexidade de mim, se é que isso é possível.
            Para entender um pouco mais de mim e pra que minhas estórias tenham sentido, falarei que fui uma adolescente tímida, ou quase, amiga ao extremo, dedicada  , fiel, altruísta, aquela que recebia uma ofensa se magoava , mas desculpava o ofensor, justificado-o com carinho e sentindo-se até mesmo culpada de ter dado origem, de alguma forma àquela ofensa. Mas toda vida tem um acontecimento que faz com que rumos sejam mudados, comportamentos alterados, marcos, divisores de água.
            Meu divisor de águas, o acontecimento que fez com que eu me tornasse uma pessoa mais madura, ciente de meu valor, defensora de mim mesma, e com isso reativa, não no sentido agressivo, mas no sentido de me proteger, me defender  e estar pronta para a convivência em sociedade.
            Coincidência ou não, foi com uma professora de Psicologia no curso de magistério que eu fiz. Eu que até então, era totalmente respeitosa com os professores, incapaz de responder uma ofensa, fui pega de surpresa por esta professora que me chamou de ridícula , pelo simples fato de eu no intervalo, antes que ela estivesse em sala, estava penteando o meu cabelo, aquilo me deixou estarrecida e me fez despertar, pensar o porquê de eu receber tudo aquilo que me diziam sem me defender, eu merecia? Não..Não merecia ! Sentada de onde estava respondi que ridícula era ela, que deveria estar ajudando estudantes a se tornarem educadores e dava um espetáculo daqueles de falta de educação. A partir desse dia, passei a responder a toda e qualquer ofensa que eu recebia e me tornei “dona” de mim, minha defensora, no início meio sem medidas, mas depois conseguindo o equilíbrio, a serenidade para entender, quando eu deveria responder à altura ou quando deveria me calar por entender a ignorância do ofensor. Inicialmente causei  espanto nas “amigas”, que acostumadas com brincadeirinhas depreciativas , nunca respondidas e que agora eram respondidas usando a fraqueza de cada uma, pegava no “calcanhar de Aquiles” delas, para minha surpresa, ao invés de se afastarem de mim, passaram a me respeitar, vendo que eu tinha “carta na manga” para também deprecia-las, caso quisesse.
            Situações sociais, de convívio social, seja em que nível forem : familiares, fraternais, amizades, relacionamentos amorosos, profissionais, são sempre um desafio ao nosso auto-controle, nossa auto-estima. As pessoas cobram demais, perguntam demais, fiscalizam demais, e se ficarmos à mercê de todos esses inquisidores, não teremos mais vida, seremos escravos e vislumbrar felicidade real , plena é quase impossível, pois ninguém até hoje, conseguiu agradar à todos. Resolvi agradar a mim mesma, respeitando algumas regras de convivência social, mas sendo fiel a mim, agradando a mim, isso, é claro, incomoda. Ser diferente, fugir aos padrões estabelecidos traduz luta, luta perene e requer perseverança , amor incondicional a si mesmo, aceitar-se !!
            Sempre fui muito observadora, e sempre gostei de gente, das minúcias que circulam as relações humanas, as reações nas mais diferentes ocasiões e isso me fez desenvolver a sensibilidade e ter uma habilidade no trato com as pessoas. Fazer contatos, conhecer gente, saber de gente, penso que inspiro confiança, pois sou boa ouvinte e tenho uma palavra na hora certa, uma brincadeira que anima , um ombro para acolher e com isso angariei amigos, sendo franca e tendo um jeito meio que extrovertido, por vezes, incompreendido.
            Tendo uma adolescência turbulenta, fugindo aos padrões, precisei me aceitar com perfeita dentro das minhas imperfeições, valorizar-me para a partir daí enfrentar o mundo padronizado , em que a moda é ditada pela novela das oito, o cabelo, o jeito de falar, do que gostar e até mesmo na política é moda dizer que vota em fulano, é tão complicado ser diferente. A sociedade cobra, e nós aceitamos a cobrança, no fundo achamos que realmente estamos fora de algum padrão que deva ser o certo, pois se assim não o fosse não seria tido como “padrão”, primeiro a cobrança quando na adolescência, “cadê o namoradinho ?”, aí você arruma o namoradinho e pensa que estará livre das perguntinhas mas não ,surge outra e aí, “quando vão ficar noivos ?”, mais uma período de respostinhas com sorrisos amarelos, afinal você pode não querer ficar noiva e se você fica noiva não pense que vai se livrar, não a cobrança agora será pelo casamento e se você se casa aí sim, cessam as perguntas , afinal você é mulher, namorou, noivou, casou, ledo engano..Agora você precisa ter um filho para satisfazer essa tal sociedade e ficar dentro dos tais padrões, seu casamento vai bem, seu companheiro é perfeito, vamos ter um filho, ahhh que alegria, agora você é completa, não ainda não, “Quando vem o irmãozinho?” e você, preocupada com a família, marido, filhos, casa, trabalho, pois hoje somos também profissionais de sucesso, então somos perfeitas, correto? Não..você engordou, o que houve? Já que você conseguiu a duras penas, casar-se, ter filhos, ser profissional, temos agora que cuidar de sua aparência, você passa a caminhar, a fazer dietas da lua, da sopa, do palito com água, enfim emagrece e vai aquele encontro familiar linda, casada, com filhos, profissional de sucesso e vem uma e dispara: “Você está doente? Está tão magrinha!!”Não adianta tentar agradar a todos isso é totalmente impossível...Há que seguir-se padrões sociais de urbanidade, é claro, a convivência solidária e respeitosa e as Leis, pois nem Aquele que veio pra nos salvar agradou a todos.
            Algumas coisas que acontecem comigo são no mínimo inusitadas e por incrível que pareça sempre tenho uma testemunha, pois se assim não acontecesse seria difícil de acreditar, pois fogem a normalidade, ao “padrão de acontecimentos cotidianos”, e contá-los é um prazer, pois dramatizar “prende” os ouvintes e sinto-me representando eu mesma e posso “me ver , fora de mim”. Vou abrir um espaço no meu Blog, que vou chamar de “Coisas Cotidianas” que espero que gostem.

domingo, 2 de setembro de 2012

Tempestade em Copo D´Água




Analisando a origem da expressão “tempestade num copo d´água” com o significado de aumentar descabidamente a importância de eventuais acidentes nas relações pessoais, percebi que tais “tempestades” dependem de como cada um consegue lidar com determinadas situações e como são estritamente pessoais e intransferíveis não há como julgar se certas ou erradas.
            Quantas e quantas vezes criticamos o comportamento de pessoas que passam por determinada situação e quando nós mesmos estamos a passar por elas, agimos de forma semelhante ou até mesmo com maior dificuldade do que aquele que antes criticávamos.
            Quando um amigo passa pelo término de um relacionamento amoroso, entra em depressão, se afasta dos amigos, desacredita no amor, fica se lamuriando cada vez que nos encontramos e aquilo se torna até chato pois, de fora, pensamos que há tantas pessoas legais no mundo, tanta vida para ser vivida, que nosso amigo é tão especial, alegre, bonito, interessante que poderia simplesmente deletar aquele ser que o abandonou, sacudir a poeira e estar pronto para novos relacionamentos.Em verdade muitas vezes  no afã de cuidar daquele que amamos sofremos junto vendo a angústia do amigo e queremos ajudá-lo dando incentivo e boas palavras, mas nada sabemos do que vai no coração do outro, as minúcias que faziam daquele relacionamento especial embora para nós, aqui de fora, tenha sido uma libertação. Muita gente é feliz acorrentado, não quer a libertação!
            Quando alguém perde um ente querido os primeiros dias são recheados de amparo, ajuda, palavras de carinho, abraços e promessas de “estamos com você”. Na missa de 7º dia muitas pessoas comparecem, compartilham da dor e da saudade, aceitam suas palavras de saudade e dor. Mas.. o tempo passa e já na missa de 1 mês de falecimento somente os mais chegados comparecem e parecem já ter esquecido aquele que foi tão especial. A partir desse momento as pessoas meio que cobram que você esqueça, que se reerga, que deixe-o descansar em PAZ, com se falar dele ou dela, fosse proibido e trouxesse certa energia negativa, é se você insiste em falar, está a beira de uma depressão e está ficando chata.
            Isso aconteceu comigo, exatamente da maneira como expus, estava de um lado e passei a estar do outro. Quando um vizinho nosso faleceu, senti muito, pois era o vizinho/amigo muito especial, morava com sua esposa, há mais de 20 anos a nosso lado, freqüentava nossa família e ficamos de verdade sentidos e até hoje sentimos sua falta. Sua esposa, ficou literalmente sozinha, pois não tinha filhos e tudo que fazia era junto ao marido: compras, passeios, viagens, médico, resolução de problemas, enfim um existia por meio do outro e vice-versa. Quando ela , a esposa, demorou muito a se recuperar de sua perda, todos diziam que já estava na hora de colocar a vida em ordem, de começar a se habituar e muitas outras coisas. E, agora consigo entender perfeitamente como ela se sentiu, os momentos pelos quais passou e até senti-me envergonhada de ter em algum momento criticado esse ou aquele comportamento.
            Tive , há pouco mais de um mês, um encontro revelador com uma tia do meu pai de 84 anos. Fazia uma idéia dela totalmente distanciada da verdade. Enxergava-a como muito meticulosa, toda programadinha, com uma vida muito previsível e sem aventuras ou surpresas e confesso que até achava um tanto chata quando a encontrava na casa da minha avó. Religiosamente ia à casa de minha avó às 3 da tarde, lanchavam às 4 e ia embora às 5 e os papos, as conversas, eram sempre as mesmas. Quando meu pai faleceu ela marcou de vir aqui em casa para conversarmos, dar um apoio à família e esse encontro estava me dando calafrios. Pensava em como seria “suportar” tal visita por 3 horas.
            Eis que chegou o dia. E ela chegou às três da tarde , em ponto, e começamos a conversar, não sabia que assunto falar, que tipo de papo puxar. Eis que veio a grande surpresa, de fala fácil, inteligentíssima, animadíssima, com histórias fantásticas da vida, de amores, e o melhor de tudo com histórias da minha família que eu nem pensava que pudessem existir. Me fez entender a minha avó mais pouco, me fez olhar para a minha família com um olhar que eu jamais tive a oportunidade de ter. Nesse dia lanchamos não às 4, mas às 6 e ela saiu de minha casa às 7 e com a promessa de que voltaria pois foi uma tarde surpreendente e agradável.
            Cada dia mais me convenço que cada um É um, que cada um encerra em si um universo de pequenas coisas, que devo me policiar para não julgar. Que ao analisar fatos e atitudes presentes é preciso , se possível, conhecer um pouco da historia do outro para com isso tentar um melhor entendimento de determinada atitude e, principalmente, não esperar nenhuma atitude dos outros nos moldes do que eu ache que tenha que ser, isso é inteligência emocional, é poupar-se de decepções, evitar conflitos e ser mais feliz.
            Tempestades em copo d´água, tsunamis emocionais, maremotos pessoais, erosões sentimentais, minotauros mentais, labiritintos profissionais, coorentes sendo arrastadas em castelos ilusórios enfim cada um sabe a dor e a delícia de ser o que É.
            Mais uma vez parafraseando meu pai: “Cada um dá o que tem”

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Prazo de Validade!


Nas embalagens dos mais variados produtos vem escrito, sinalizado , o prazo de validade, ou seja, o tempo em que esse produto pode ser consumido , dentro das condições saudáveis e sem prejuízo para a sua saúde.
            Eu , em algumas situações, costumo dizer que tenho prazo de validade. Quando vou a uma festa tenho prazo de validade, ou seja, aqueles momentos em que você chega, cumprimenta os amigos, conversa, conta algumas novidades, come alguma coisinha, bebe um pouquinho ,dança se for o caso , até aí é saudável, faz bem a cabeça e ao coração, depois o teor alcoólico dos convidados começa a incomodar, pois começam as perguntas inconvenientes, as posturas não muito legais . Hora de ir embora com uma boa impressão do encontro.
            Na verdade somos controlados diariamente por prazos, prazos e mais prazos. Hora de acordar, de ir ao banheiro, de trabalhar, de sair do trabalho, de chegar em casa. Prazo para descansar , que são as férias. Carências nos planos de saúde.
            Algumas pessoas deveriam vir com o prazo de validade estampado em algum lugar que pudéssemos ter acesso, para saber o tempo que teríamos para nos relacionarmos de maneira saudável, sem riscos à saúde física e mental.
            Algumas amizades podem ser testadas com um simples NÂO, se não resistem a esse pequeno desconforto acabam de forma instantânea, o que nos leva a acreditar que era produto falsificado.
            Existem também aquelas amizades que são destinadas a momentos essencialmente alegres, ou seja, para o chopinho, as festas e quando tudo vai bem e como nem sempre tudo vai bem o tempo todo o prazo expira rapidamente também.
            Existem os relacionamentos intimamente ligados aos prazos, exemplo, um político é seu amigo durante a campanha eleitoral, depois disso ele simplesmente esquece tudo que diz respeito a você. Se você ocupa um cargo a presidência de uma firma, por exemplo, terá muitos amigos, colegas, colaboradores, mas esse relacionamento estará diretamente ligado ao cargo, ou seja, não se relacionavam com você e sim com o cargo que ocupava e se deixa de ocupar é claro que o elo se desfaz.
            Não me esqueço de um amigo que era Comandante da Marinha, ficava extasiado com a maneira pela qual era tratado por todos, achava-se querido e estimado por todos. Sabiam a data do aniversário de sua esposa, enviavam flores, de seus filhos, era convidado para festas familiares, enfim um relacionamento recheado de momentos bons. Quando ele aposentou-se, tudo cessou e inclusive quando foi resolver um pequeno problema no lugar onde trabalhou por muitos anos, olhavam-no com descaso, alguns até fingiram que não o conheciam. Sei que muitos ao ler dirão: Ahh , mas comigo é diferente, tenho amigos fiéis e sou querido por todos e eu diria: Até que o prazo de validade acabe.
            É claro que existem as exceções, amizades com prazo de validade indeterminado, que suportam tormentas, que agüentam vários “nãos” e o amor permanece, e o mais difícil : agüentam as nossas vitórias, sim pois chorar com alguém é fácil, alegrar-se pelo sucesso do outro é a parte mais complicada.
            Meu prazo de validade venceu para tolerar : Hipocrisia, ingratidão, leviandade, vitimismo e falsidade. Nesse momento estou a procura de antídotos para tais coisas, sei que conseguirei, pois nessa vida há que se ter tolerância, compreensão e muita paciência.

domingo, 22 de julho de 2012

MEU PAI...


Há tempos tenho buscado forças para escrever sobre o meu pai, pois não queria nada melancólico, nada com dor e sim algo que pudesse traduzir emoção, saudade, amor e acima de tudo agradecimento a ele.
            Falar dele como vivo, que é em meu coração e na Pátria espiritual, pois aprendi que somos seres espirituais passando por uma experiência terrena e não o contrário, portanto ele voltou para casa, porque mereceu, porque cumpriu com maestria sua missão.
            Queria falar dele com alegria , respeito e admiração. Sempre me lembro de momentos felizes e tenho arraigados em mim seus exemplos de dignidade, respeito e honradez.
            Um homem simples, vindo de uma família simples! Pai sapateiro e mãe dona de casa. Perdeu seu pai aos 26 anos e jamais esqueceu os exemplos desse amado e querido pai e todas as vezes que ouvia a música de Nelson Gonçalves que falava sobre um lugar a mesa vazio o fazia chorar. Herdou desse pai uma pequena fábrica de sapatos e durante 20 anos fez dela seu sustento e de sua família, pois casou-se cedo com minha mãe, sua primeira namorada ,com quem ficou por 54 anos
            Abnegado, lutador, guerreiro tinha o sonho de ser advogado e fez sua faculdade já casado, pai de família e trabalhando na pequena fábrica. Quando formou-se advogado reuniu eu e minha mãe e disse: “Vamos passar por momentos difíceis, mas agora vamos viver da minha advocacia” e nós, as mulheres da casa, assinamos embaixo e apoiamos em todos os aspectos aquele sonho, aquela luta.
            Desbravador, precursor , não demorou a ser reconhecido por seu talento, por sua fluência e conhecimento jurídico, digno daqueles que estudam por madrugadas a fio. Pautou seu trabalho, seu ofício, sua paixão, pela retidão de caráter, dignidade e luta pela justiça e pelo direito. E foi como tribuno onde viu surgir o reconhecimento que buscava! Protagonizou júris inesquecíveis nos tribunais do rio de Janeiro onde , além do conhecimento jurídico, utilizava sua veia artística, “prendendo” a assistência e o corpo do júri com sua fala ininterrupta e sempre acalorada. Respeitado por seus adversários, Magistrados e  membros do Ministério Público.
            Iniciou na política da Ordem dos Advogados do Brasil e todas as vezes em que foi eleito (30 anos) disse: “Fui eleito para servir e não para ser servido”. Coisa rara nos dias de hoje , pois as pessoas tem uma cultura “umbilical”, onde somente seus umbigos são importantes . Mário Sérgio Cortella , filósofo contemporâneo, diz que: “Um poder que não serve para servir é um poder que não serve”. Meu pai pensava exatamente assim.
            Líder carismático, sabia perfeitamente que enfrentaria grandes oposições porém jamais utilizou-se de meios escusos para obter suas vitórias, contava sim com amigos fidelíssimos e com sua conduta a depor em favor de si. Ensinou-me que o melhor conselho é o exemplo e que o melhor travesseiro é a consciência tranqüila.
            Homem de uma FÉ inabalável e de uma capacidade de perdão que ainda não conheci outra pessoa igual. Muitas vezes, após ter sido traído, nós o questionávamos o porquê de continuar acreditando nas pessoas e , ainda, conseguir ajudar aquele que o traiu e meu pai me olhando nos olhos dizia: “Porque eu não julgo ninguém , cada um dá o que tem! Se eu acredito em DEUS e Ele não julga quem sou eu para julgar?!” E sempre argumentava com uma atenuante para o ofensor. Confesso que preciso evoluir mais! Não conseguia entender e me sentia mal de não entender, de não conseguir mais me relacionar com o coração aberto com tal pessoa!
            Em 2001 foi despertada uma outra paixão: A docência! Aos 61 anos tornou-se Mestre em Direito elaborando seu trabalho sobre o Tribunal do Júri e sendo aprovado com louvor pela banca. A partir daí, encantou-se pela docência e dedicava aos queridos alunos grande parte do seu dia.
            Disse a ele , certa vez, que deveria dedicar-se integralmente a ministrar aulas pois ali o carinho e o reconhecimento são reais, são marcantes, fazem a diferença. Ali , junto aos alunos, é que deveria estar, pois com eles havia a possibilidade de incutir nos novos profissionais dignidade, respeito, ÉTICA. Ali, na base, na formação, é que seria imprescindível seus exemplos e mais aproveitados na prática!
            Sempre tive a real noção que somos insubstituíveis somente para aqueles que amamos e os que nos amam e nunca tive a ilusão , nem o desejo de reconhecimento externo, porém  de validação todos gostam e a melhor validação é perceber a tua obra. Mesmo os que não gostam de ti, se rendem frente a tua obra. As pessoas esquecem rapidamente o bem  que recebem porém se algum suposto mal lhes é feito tem caráter eterno.
            Meu aprendizado com ele foi abençoado .Quando recebeu a medalha Pedro Ernesto na câmara dos deputados pelos serviços prestados a advocacia fluminense, fui designada de surpresa para falar pra ele e por ele. Eu, a filha do tribuno brilhante, como? Foi mais fácil do que eu pensava, eu tinha muito a falar, falaria por horas somente verdades, e algo que falei jamais esqueci, disse eu: “ Se nada na minha vida der certo, se nada eu tivesse a agradecer ainda assim  teria algo inquestionável a agradecer à DEUS: Ter tido a oportunidade de ter pais como eu tenho. Meu pai, meu exemplo, meu ídolo, meu pilar de sustentação moral e minha mãe, minha amiga, minha companheira meu exemplo de dignidade e honradez” E esse agradecimento é hoje mais forte do que nunca!
            A relação com o poder é muito louca. Aprendi que quando se está em algum lugar de destaque social, seja ele qual for, surgem “ do nada” amigos de infância, admiradores, parceiros e basta um pequeno tropeço para que sumam e voltem para o nada de onde vieram. Isso é natural , cada um dá o que tem, dizia meu pai! Sabia exatamente quem eram os amigos da “ cadeira” e os amigos do coração e eu aprendia extasiada aquela maneira firme e serena de se relacionar com ambos. E que “cadeira” ilusória...
            Certa vez perguntei a ele como era lidar com tantas pessoas diferentes e com tantos sentimentos diametralmente opostos tipo amor e ódio, se ele não se incomodava com tantos olhares não muito bons para ele, como lidava com essa energia e ele disse: “ O mal que te desejam é igual a um presente, se você não aceita o presente com quem fica? E mais uma vez disse: cada um dá o que tem!”
            Poucos conheceram o Roberto animado, leve, com o pano de pratos sobre os ombros “queimando uma carne” no quintal do nosso palácio! Que gargalhada gostosa, que dancinhas exóticas “ Se via como o rei do ritmo”, bebericando sua cerveja e falando do seu amado Fluminense!
            Nos jantares dançantes da OAB se preocupava com todos, para que todos ficassem e fossem felizes e sempre disse que “ não há festa sem convidados” e ele também ficava feliz em ver o ambiente lotado de sorrisos e naquele momento pouco importava se fossem verdadeiros ou não! Importava o congraçamento, a união, a festa e nesses momentos sempre agradecia à DEUS a oportunidade de estarem juntos e quando chegava à casa, agradecia rezando seu terço coisa que fazia todos os dias de sua vida!
            Quando alguém como ele adoece, deixa triste e meio cinza tudo ao redor. Falta uma luz, falta o sorriso, falta a implicância, falta algo no ar. Quando não briga causa estranheza, e a gente se pergunta até se papai do céu não errou . Sim, a gente questiona tudo! Mas ele é guerreiro, ele luta , ele vence todas, ele não perde, não perdeu e não perderá nenhuma batalha, não ele, não o advogado abençoado!
            E hoje, vejo, ele continuou sem perder! Tudo que se propôs na vida a fazer ele fez e fez com dignidade, com FÉ, com alegria, com abnegação e com brilhantismo! Seria seu retorno à casa do PAI uma derrota? Não, absolutamente não, é o destino de todos, a única certeza nessa passagem terrena e ele, certamente, estará trabalhando firmemente para o bem no plano espiritual .
            Quando do sepultamento do meu pai pedi que ninguém fizesse uso da palavra, pois naquele momento a dor era minha, particular, intransferível pois disse eu que poderia haver ex-amigo, ex-professor, ex-presidente, ex- colega, ex-adversário, mas não há, e nunca haverá ex-PAI. Sei que corri o risco de ser injusta com muitos amigos que ele fez durante a vida e sei que são muitos, imensamente maiores do que os supostos desafetos, porém preferi correr esse risco do que arriscar-me a ouvir palavras que não me soassem verdadeiras,  sei que os verdadeiros amigos compreenderam e apoiaram a minha solicitação e por esse motivo agradeço. E depois meu pai foi homenageado pelo presidente da seccional do Rio de Janeiro , representando a instituição que ele, por 30 anos, defendeu.
            Aqueles que tiveram o privilégio de conviver com o meu pai desejo que possam ter usufruído de seus exemplos de dignidade e honradez sejam eles alunos, amigos , colegas de profissão, companheiros de batalha.
            Feliz estou de receber o abraço e o carinho de tanta gente , pessoas que ele ajudou, pessoas que ele orientou e vejo que realmente cumpriu sua missão e fez a diferença sua passagem pela Terra e até mesmo aos que não tinham por ele afeto eu agradeço e vou parafrasear meu pai: “ Cada um dá o que tem”.
            Hoje, agora, agradeço à DEUS a oportunidade de ter tido como pai , amigo, parceiro o ROBERTO LUIZ PEREIRA para SEMPRE vivo em meu coração. Te amo, pai!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

SUSTO


É extremamente frustrante quando nos deparamos com conflitos em razão de falta de objetivos comuns, do sentimento de pertença, de cuidado com o bem comum.

Pergunto-me, várias vezes ao dia, para que serve o meu trabalho, que diferença ele faz , a quem está direcionado e de que maneira está sendo entendido/visto esse trabalho, essa dedicação.

Não consigo compreender essa inversão de valores na sociedade, não consigo entender como pode o errado estar certo e o certo estar errado. Não é somente questão de mídia, de publicidade do mal . É ,também e principalmente, questão de valores familiares, sociais e humanísticos.

Muitas vezes vemos reportagens que qualificamos como absurdas, onde pessoas destroem orelhões (que é de uso comum e podem salvar vidas numa emergência), outras destroem ônibus, vagões de trem pois se sentem prejudicadas por atrasos ( E, é claro, depois da destruição, os atrasos serão maiores), picham residências, monumentos, pois acham bonito, traz popularidade, mas ninguém pensa em nem mesmo um ínfimo segundo que pode ter sido fruto de muito sacrifício a compra daquela tinta pelo morador. Não se pensa que com o simples fato de se comprar um produto “pirata”, estamos prejudicando toda uma indústria que tem obrigações sociais e emprega famílias. Não nos cabe julgar se é o não justa a carga tributária, não nesse momento da compra, e sim com manifestações equilibradas, dentro da legalidade .

É muito difícil pra nós, educadores, nos depararmos com determinadas atitudes dentro da escola. Aqui que é o NOSSO lugar, o lugar onde toda equipe trabalha para ,cada vez mais, fazer um lugar diferente, um lugar aconchegante, com conforto e principalmente dignidade. Um diferencial em educação e a cada dia que alguém mostra que não gosta desse lugar, destruindo, danificando, fazendo mau uso de algo que se destine ao bem comum, nos dá um desânimo imenso, uma vontade grande de desistir e deixar que tudo ande conforme a vontade , ou seja, quebrou, deixe ficar assim, danificou, não substitua. Mas....ainda conseguimos não pensar somente naqueles que tem esse comportamento desleal, pensamos naqueles que se importam, naqueles que querem um lugar melhor e por isso continuamos. O que mais entristece é que se perpetua a idéia de valorizar somente quando perdemos. É tão triste saber que não conseguem perceber o lugar especial que vocês têm, não um lugar onde ninguém erra, mas um lugar onde todos estão querendo acertar e fazendo de tudo para acertar.

É impressionante como não conseguem perceber que o que habilita uma voz a reivindicar direitos é exatamente cumprir, primeiramente, seus deveres. É preciso mudar, é preciso perceber que algo não vai bem. O que mais desejo nesse momento é que percebam que há ALGO ERRADO! Desejo que possam ter a exata dimensão do erro, pois caso contrário, não haverá uma mudança real, em essência. Se o que aconteceu parece bobo, é corriqueiro, realmente temos ( nós/ escola) que fazer alguma coisa urgente, pois a noção de certo e errado não está existindo.

Martin Luther King, pastor norte-americano, certa vez disse: “ O que me assusta não é o barulho dos maus e sim o silêncio dos bons” e é, exatamente isso, que está me assustando muito.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Confiança...

Um amigo me fez uma pergunta profunda: Mônica , você confia em mim?

Comecei a pensar ,antes mesmo de responder, pois há alguns aspectos a considerar.

Confiar em alguém não significa somente ser digno de receber uma confissão , vai além, é sentir-se tranqüilo para ser quem a gente é, em essência, é poder falar o que sente sem senões, é saber que a pessoa estará lá, muitas vezes para te gritar verdades tão ruins de ouvir.

Confiança, de acordo com o dicionário é o ato de deixar de analisar se um fato é ou não verdadeiro, entregando essa análise à fonte de onde provém a informação e simplesmente considerando-a. Se refere a dar crédito, considerar que uma expectativa sobre algo ou alguém será concretizada no futuro.

Confiar é estar tranqüilo, é uma sensação de paz estando com o outro, seja ele amigo ou amor.

Aprendi, desde pequena que a verdade ,por mais dolorida que venha ser, é sempre o melhor caminho. Se aprontava alguma e era perguntada pela minha mãe ou meu pai, assumia, pois queria que meus pais tivesses confiança em mim, que quando eu negasse a autoria de algo, tivesse peso minha palavra, pois sabiam que se realmente eu fosse a culpada eu diria. Assim formei meu juízo de valor, confiança tem a ver com verdade.

Não significa que tenhamos sempre que acertar, os erros fazem parte dos acertos , assim como os venenos fazem parte dos antídotos, porém há que se ter o cuidado com o outro.

Enfim, respondi que eu confio no meu amigo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Estaleiro de gente..




Sabem aquelas pessoas que parecem predestinadas a somente ajudar outras pessoas e, que por vezes, parecem que sua única “utilidade” é ajudar, que não tem vida própria fora dessa missão? Pois é, creio que são pessoas estaleiro.

Segundo a definição estaleiro é o lugar onde se constroem ou se consertam navios. No estaleiro também se pode converter uma embarcação de um tipo em outra, com finalidade diferente como de cargueiro a navio de passageiros, por exemplo.

Se analisarmos a vida como um grande mar, sujeito a tempestades e calmarias, com pequenas e grandes embarcações, algumas luxuosas e outras simples, a motor , vela ou remos podemos ver que muitas vezes são necessárias paradas para conserto, ou até mesmo mudar a finalidade da embarcação.

Conversando com amigos, observando o movimento da vida pude perceber que existem mesmo pessoas que são como estaleiros, que ficam ao lado da embarcação, cuidam das avarias,fazem todo tipo de reparo e quando a embarcação se vê pronta para navegar, parte sem olhar para trás.

São muitos os casos daqueles que tentam a fama e tem sempre um( a) companheiro( a ) que estão a seu lado nas lutas, nas dificuldades, amparando, incentivando, dando força , torcendo e acreditando no sucesso e quando a fama chega..ahh quando a fama chega aquele( a ) que deu todo o suporte psicológico é esquecido( a ) , deixado( a ) de lado, pois parece fazer parte de uma realidade que precisa ser esquecida.

Quantos são os casais que lutam juntos, passam por privações e batalham por uma ascensão social e quando conseguem, quase sempre existe a separação? Na maioria das vezes porque um dos dois encontrou um outro alguém que abalou a relação, alguém que já pegou o trajeto em “mar aberto”, não passou pelo período de construção, planejamento, investimento.

Nos grupos sociais sempre existe aquele que é o bom ouvinte, o conselheiro, o equilibrado, aquele que tem seu ouvido, atenção e tempo “roubados” por todos os outros que despejam seus problemas, dúvidas, inseguranças e quando desabafam, deságuam suas lágrimas, desafogam de suas frustrações e sentem-se livres, não se lembram do depósito( no caso o ouvinte ).

Tenho uma amiga que está hoje, numa fase estaleiro e sabe bem disso, pois seu companheiro, antes empresário, rico, com uma vida de luxo onde freqüentava somente as rodas da alta sociedade, com compras em lojas de griffes famosas, com o passaporte carimbadíssimo pela viagens de sonho que fez, aportou em seu cais , com a saúde abalada, falido e depressivo e ela se desvela em cuidados, atenção e sabe que somente teve a oportunidade de conhecê-lo pelo revés que ele sofreu na vida e a família que ele tinha e sustentava com luxo o abandonou e cada um deles segue numa vida luxuosa porém sem se lembrar que ele existe. Esse atitude dela me intrigou e perguntei se ela estava preparada para a partida dele quando tudo voltasse ao normal, se ela tinha a consciência de que normalmente os homens não ficam com as mulheres que lhe colam os cacos, pois geralmente querem esquecer as fases difíceis e você será a prova viva de toda dificuldade que passou, ela não me respondeu.

Tenho uma prima que passa longo tempo sem me procurar, sem saber como estou , com vai minha vida, se me sinto algumas vezes só , enfim se estou bem e quando me procura, invariavelmente, é para desabafar e dizer que está mal, que precisa conversar, desabafar e eu, usando meu lado estaleiro, ouço, acolho, aconselho e quando ela some de novo, sei que está bem, geralmente porque arrumou um novo e eterno amor. Que bom que a gente consegue aliviar o outro, ser um porto seguro, em alguns momentos, mas não em TODOS os momentos.

Teria muitos exemplos de pessoas estaleiros, inclusive eu sou uma delas, mas meu estaleiro está fechado, estou navegando em altos mares agora somente em mar aberto podem me encontrar, ou seja, se estiver bem, navegando a pleno vapor.