sábado, 24 de outubro de 2009

O Não Salvador..

No último fim de semana dias 17 e 18 outubro de 2009 fomos surpreendidos com um espetáculo de horrores, de violência, de falta de amor, uma impotência total , uma fragilidade e vulnerabilidade assustadoras do poder público.A luta pelos pontos de venda de drogas em duas comunidades no Rio de Janeiro fez cidadãos reféns da violência, pânico, medo.
Em meio a toda essa confusão, a dor de uma mãe com a perda de seu filho, policial que estava no helicóptero abatido pelos traficantes, e suas palavras me fizeram refletir, segue as declarações da mãe publicadas no jornal “O Globo” do dia 21 de outubro de 2009.
“Muito emocionada, a mãe de Izo, Regina Gomes Patrício, falou do amor que o filho tinha pela profissão e disse que os pais são os verdadeiros culpados pela violência que assola o Rio, pois não dão educação para suas crianças:
_ Tenho a 7ª série ( do Ensino Fundamental), mas levei meus filhos ao Ensino Médio. Dizem que o culpado ( pela violência) é o governo, mas culpados somos nós, os pais,que não sabemos dar educação para nossos filhos. Povo de favela, povo de morro, nasceu os filhos de vocês, modele eles do berço. A gente não pode esperar chegar aos 13, 14 anos, que eles já estarão perdidos. Se for do berço, serão obedientes, amigos de vocês. Jamais vão errar na vida, virar traficante e deixar toda a sociedade apavorada. Meu filho foi um herói, um guerreiro. Morreu fazendo o que mais gostava. Vai deixar saudade- Disse Regina, que depois do enterro teve de ser amparada por familiares”
Todos nós, que somos a sociedade civil, temos nossa parcela de culpa, ela, mãe que criou filhos na favela, mães que criam filhos no asfalto, mães que criam filhos nos apartamentos e casas luxuosas, filhos são filhos, necessitam de nossa orientação, necessitam do NÃO salvador, necessitam de limites, necessitam, como disse Regina, que os modelemos desde o berço.E que lhes passemos valores, respeito, solidariedade e muito amor.
Nada nos adianta , nesse momento de extrema violência, discutirmos de quem é a responsabilidade, se da polícia , que não prende os criminosos e cheira a corrupção, se do Governo Federal que não fecha as fronteiras, se do Legislativo que não acaba com a progressão de penas e do Judiciário que libera criminosos por bom comportamento, não nos adianta tratar dos sintomas, sintoma não é o MAL em si e sim suas conseqüências.
Precisamos sim, cuidar das novas gerações, dar exemplos de amor, respeito, dignidade, cidadania, semear AMOR. Precisamos , desde “o berço”, mostrar que por menor que pareça o dever, por mais primário que possa parecer o ato é preciso incutir a necessidade de respeito seja numa fila onde pretendemos “furar” a vez do outro, num troco errado que recebemos e não devolvemos fazendo uso indevido do erro do outro, num carro que paramos “rapidinho” numa calçada, num cumprimento que deixamos de dar ao entrar em algum lugar, no obrigado , no por favor que deixamos de dirigir ao outro, naquela louça que deixamos sobre a pia para que o próximo que chegue possa lava-la, numa garrafa de água que deixamos vazia na geladeira, naquele material escolar que “aparece” em casa e não perguntamos de onde vem.” Mas isso tudo é tão pequeno”, podem pensar, mas as grandes coisas começam no detalhe, no imperceptível, na leitura incidental que os pequenos fazem do mundo, no bombardeio de imagens e fatos violentos que eles têm , na corrupção , na certeza da impunidade alardeada. É preciso que façamos a diferença , que sejamos o exemplo para eles, que policiemos nossas palavras a atos para que nossos pequenos possam ver em nós um exemplo vivo daquilo que falamos para que nossa fala não seja vazia . Enfim amar muitas vezes é dizer o NÃO salvador.


Mônica Pereira
23/10/2009

Há muito não faço nenhuma postagem por aqui, sou meio de marés como boa pisciana, por vezes escrevo horas a fio, por vezes acho que desaprendo ou meu dispositivo mental, desconecta. Nem é esse o meu jeito de postar, aliás acho que nem tenho um jeito definido de escrever..É realmente ter o coração nos dedos ...

Um comentário:

KikoAraujo disse...

Somos todos criminosos em potencial. As portas e os caminhos que a vida nos impõe é que dão a exata dimensão do ser humano que nos cabe ser, do nosso papel na sociedade e do destinos da nossa própia história de vida, que só a nós cabe escrever.